"Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe." - Oscar Wilde

Velas e velhas. Lágrimas e suor

  • sexta-feira, 11 de maio de 2012
  • Felipe D´Castro


  • Estávamos todos tristes. No centro da sala o caixão imenso. As velas e velhas a se derreterem. As velas comemoram aniversários e choram mortes, diria o poeta. O homem, com algodão enfiado em todos os buracos, morrera de algo cuja imaginação do leitor quiser. Não vim contar acessórios, mas a essência. A sala era pequena, pouca iluminação. Ouvia-se conversas chorosas, chiados, sussurros, mas ninguém que discursasse pelo homem morto. A viúva, dependurada sobre o marido, acabara de perder seu bem maior, seu ponto fixo, sua estrela em terra de penumbra. Chorava esmorecida e inconsolável, como todas as mulheres.
    Os dois filhos próximos ao caixão. Um rapaz alto, de trejeitos feminis, talvez um Ulisses em matéria de Penélope. Charmoso. A garota era mais simples, vestia muitos panos. Tinha uma feição fechada, rancorosa. Mas sua face era sublime, traços leves, plumáticos. Helena de jeans. Ambos em volta do caixão.
    O resto da família passava rápido pelo falecido, olhavam-no. Uns comovidos, outros satisfeitos. A pequena casa estava entupindo-se de pobres. Do lado de fora alguns pirralhos descamisados rindo. Assassinaram um bandido, um cadáver adiado, como diria um outro poeta. A morte assusta a todos, todavia os pobres parecem quebrar essa máxima, estrangulá-la com seus risos sem sentido. Ela não chorava. Ela era helênica, no entanto não chorava. Eu gosto de ver mulher chorar. Ela não chorava. Isso me preocupava profundamente. Imensamente profundo.
    Todas as mulheres estavam chorando, ela não. Ela não chorava. Isso me inquietava como palhaça face à plateia inerte. Mulher tem que chorar. Levantei-me de onde estava, caminhei para próximo do caixão. Falei alguma coisa com o rapaz charmoso. Falava bem. Fitei a moça, vi seus olhos helênicos, brancos, intocados com toda semântica. Branca, não como nuvem, não como leite, só branca. Apesar da roupa cobrir-lhe o corpo, vi seus seios juvenis, a graça da mocidade. Uns braços tão brancos e macios. Porque os toquei. Calma, eu disse, o momento é difícil, mas tudo pode voltar ao normal. Ela não me olhou, tampouco falou nada. Sei que é difícil perder alguém, mas depois se ajeita, ele vai pra um bom lugar, completei. Finalmente a menina olhou-me. Olhos cáusticos. Tanta vida em seus olhos, que parecia loucura a morte tão perto. Lábios rosados, súplices. Príamos aos meus lábios Aquiles. Você não quer descansar um pouco?, perguntei.
    Fomos à cozinha. Tomamos água. Via-a abrir a geladeira, buscar algo na parte de cima. Com os braços levantados e corpo estendido, rígido. Vi seus músculos tesos. Costas desenhadas, finalizadas com uma curva tão suave que o próprio Caravaggio não o faria. O jeans apertado contornava suas coxas. Eu teria que fazê-la chorar.
    Você não está triste? Um pouco. Mas seu pai morreu, certo? Já morreu faz tempo! Então esse não era seu pai? Não, não é isso, ele morreu pra mim. Por quê? Prefiro não falar. Por quê? Quem é você mesmo? Do pai a gente tem que gostar, não importa! Você não teve pai, não é mesmo? Garota, você tá me confundindo. Ah, é? É sim. Por quê? Quero fazê-la chorar! Como é? É, mulher tem que chorar! Você é louco!
    Por baixo da mesa pus minha mão sobre sua coxa, arrastei sobre seu jeans minha pele. Ela entendeu o recado. Estávamos a sós na cozinha. O eco dos prantos plantava em nós um espírito juvenil. Talvez possamos conversar melhor no quarto da mãe, ela disse. Foi muito fácil. Tinha que ser difícil.
    Entrando no quarto, parada à porta, titubeou. Empurrei-lhe pra dentro pondo meus lábios em seu ombro, subindo até a orelha, sugando seu medo. Seus olhos eram receosos. Tranquei a porta. Não havia mais volta. Ela ficou de frente pra mim. Por que você não gostava do seu pai? Porque ele não me queria...
    Joguei-a na cama, com força. Cai sobre ela devagar, pra que sentisse meu domínio. Senti sua respiração ao encontro de meu pescoço, até que desci a cabeça e encontrei seus lábios-rosas. Minhas mãos tinham movimentos próprios e dissociados de meu cérebro. Aos poucos, ia subindo sua primeira blusa, ela, rápida, fez com que a tirasse rápido. Ela queria algo ligeiro, eu queria fazê-la chorar. Tirei a segunda blusa e enfim vi seus seios alvos, pontudos, lanças monalísicas lisas. Já não sabia onde repousar a boca. Depois de muito (des)pensar, resolvi sugar seus seios brutamente, algo próximo da dor, imagino. Ela era forte. Eu sugava e ela me desabotoava a calça. Estava tudo tranquilo até que senti meu membro mais fraterno em sua coxa, pulsando. Larguei de imediato seus seios saborosos e me pus a tirar-lhe o maldito jeans. A calcinha veio junto, como ajuda do destino. Não havia um pelo em seu sexo. Olhei-a nos olhos por um instante, num diálogo mudo. Olhos safados, lábios mordidos, mãos no meu ombro, e eu desci com a língua escorregando sua barriga, até chegar na extensão rósea de seu prazer. Onde minha língua pôs sentido em sua boca. Gemia baixo a cada sucção. Massageava lento seu sexo, e ela pressionava-se contra seu corpo, com as mãos em minha cabeça, as pernas dobradas, pressionando meus ouvidos, seus gemidos altos, minhas mãos em sua face, meu fôlego acabando – por um gostoso motivo.
    Levantei-me já hirto, inflexível. Vira de costas, disse. Ela, ainda mole, virou sem rebelião. Pôs os joelhos na cama, mandei tirar. Quero que deite, ordenei. Ela deitou, com os seios no colchão. Vi tudo que queria. Ela de costas, subi na cama, deitei sobre ela, pra conseguir melhor me apoiar, suspendi o corpo. Abre as pernas um pouco, mandei. Pronto, agora você escolhe o que fazer, comentei. Ela segurou, e colocou devagar em seu sexo, fazendo-me deitar sobre ela, em um contato quase cem por cento. Apoiei-me apenas em uma perna e comecei a introduzir lentamente na garota que não chorava. Seu gemido começou a aumentar, ao passo que na sala começaram os cantos católicos. A ladainha estava formada. As velhas cobriam o som da menina. Pode gemer, gostosa, dizia baixo em seu ouvido. Aumentei um pouco o compasso do movimento, enquanto suas nádegas roçavam na minha virilha. Ela pôs os braços no meu pescoço, buscando minha boca em sua nuca, no que eu suguei-lhe bem a região dos ombros. Ela gemia, gemia mais. Vai delícia, tá gostoso? Tá sim, coloca tudo, vai! E eu bombava mais forte  mais rápido ligeiro,mais forte bombando bombando forte rápido ligeiro bombando forte rápido ligeiro bombando gemendo gritando forte rápido ligeiro bombando bombando bombando mais rápido, rápido... gememos ao mesmo instante, num orgasmo compartilhado.
    Ela jogou a face pra o colchão rapidamente. E enquanto eu tirava meu músculo de dentro do dela, pude ouvi-la chorar. Foi como se eu houvesse repetido o ato. Meu pai nunca me quis assim!, disse. Por que não? Não importa, mas me custou cinquenta reais.
    Daí por diante, leitor animado, a história é pouca. Do que lembro é apenas os policiais a baterem à porta. A garota algemada. Ela não chorava. Mas é como não dizem: se não chora por mal, chora por bem.

    Sob a Luz Órfã da Noite | Parte 01

  • sábado, 21 de janeiro de 2012
  • Felipe D´Castro


  • - Os ateu tão ficando ridículo, não acha?
    - Depende.
    - Depende de quê?
    - Do ponto de vista...
    - Desenrola, Tramba.
    - Não... só isso.
    - Como assim “só isso”?
    - Ué, só isso, ora! É assim que deve funcionar: eu digo que “depende”, você concorda. Sem pensar a respeito, de preferência.
    - Ah, cara, cê tá me zoando...
    - Você já fez isso antes, então...
    - Então o quê?
    - Não é isso que é fé?
    - Fé não é acreditar em qualquer coisa, maluco. Passa aí que é minha vez.
    - Então acho que já fumei demais por hoje. Eu jurava que fé era assim. Bastava ouvir uma “verdade absoluta” e pimba! Era só acreditar até o fim.
    - Sem evidência? Sem prova?
    - Ué, provar como?
    - O quê?
    - Que Deus existe, neguinho! Tá chapado já?
    - Ah, mas isso se prova todo dia! Olha o céu, a gente vivo...
    - Mas isso a ciência explica!
    - Fala sério, conversa furada essa parada toda de macaco e tal...
    - Furada? Cê tá doidão já, só pode ser! Tá loucão, mano?
    - Que nada, quem criou as parada primeiro? Quem criou a tal das poeira lá pra ter a merda da explosão que tu disse?
    - Cê tá sem fundamento.
    - Ser ateu é muito fácil, só dizer que não existe e tal...
    - Eu não disse que era ateu!
    - Ah, não... qual é, maluco? Vem com essas pergunta aê e quer ser uma Madre Tereza? Aqui não, porra! – riu ligeiro.
    - Qual é, neguinho? Posso não? Vai mandar no meu pensamento agora? Hein? Posso perguntar as parada mais não?
    - Pode! Vai se ver é com o homem lá em cima, né comigo, não!

    Fez-se um silêncio momentâneo, até que Trambolho, mirando o mar, arriscou fazer a última pergunta.

    - Mas sério, neguinho... pra onde tu acha que vai aquele pessoal todo das Arábia?
    - Ish, mano, sei não... aquele povo né de Deus, não!
    - É. Porra... metade do mundo vai pro inferno! – riram.

    Mexicano tragou o cigarro de maneira profunda, até acabá-lo. Ficaram algum tempo ainda prostrados sobre a areia alva de Tambaú. Talvez observando a Lua, aquela misteriosa bola órfã, por assim dizer.

    - E aí, já deu hora? – perguntou Trambolho.
    - Acho que já, vamo passar lá no Mulambo?
    - Ele tá onde hoje?
    - Guardando carro lá perto das tapioca.
    - É rocha.

    Pelo calçadão. Ambos maltrapilhos. Foram rapazes sábios um dia. Ainda o eram , pois sim. Trombolho era um rapaz alto, meio desengonçado. Já morava nas ruas há uns dois anos. Por outro lado, o Mexicano nasceu na rua. Sem pai, nem mãe, pareceu mesmo parido das entranhas do asfalto. Adotado pela praia, vivia por aquelas bandas desde sempre. Já moço conheceu as religiões. Tentou de tudo, mas o catolicismo lhe conquistou. No caminho:

    - Esse papo me lembrou umas coisa, Tramba.
    - O quê, nego?
    - Quando o pastor pedia o dízimo lá nas igreja que eu ia. – riram
    - E aí, e tu?
    - Eu dizia: doutor, eu não tenho nem pra mim, o que dirá pro senhor! Aí ele aloprava...
    - Mas tu falou pro senhor pra quem? Pra ele?
    - Sim, cagalhão, e era pra quem? – riram

    Apesar do nome, Trambolho era mais que corpo, que músculos. Metia-se a poeta. Pra passar o tempo, ganhava trocados recitando Augusto dos Anjos pelo calçadão. Todos gostavam, mesmo sem entenderem os versos. Porque bom mesmo é dizer que gosta. E ele começava com aqueles versos perfeitos, cheios de podridão e amor, e o povo gostava. Ora, um rapaz maltrapilho que sabia Augusto dos Anjos era como ver um cachorrinho batendo palmas. A orla é humana. A orla é humana? É, é humana.
    E eles iam andando pelo calçadão, lotado por gente elegante. De corredores de Adidas. Velhos jogando seu xadrez, e criancinhas brincando com seus brinquedinhos de duzentos reais. Tudo isso na orla humana.

    - Aí, Tramba, tu acha que aquele maluco acreditava em Deus?
    - Que maluco, neguinho?
    - O dos Anjo, lá.
    - Ah, sim... devia acreditar.
    - E como tu não sabe, porra?
    - Qual é, Mexicano, eu sei a poesia dele, não a merda da biografia! – riram.

    Perto da feirinha, viram de longe o Mulambo. Mulambo era o mais maltrapilha dos três. Foi o último a se juntar ao grupo, que tinha mais dois rapazes, o Pé de Asa, e o Mano. Mas estes últimos fariam um outro esquema nesta noite.

    - Pô, Mulambo, tá chique hoje, hein, filho?
    - Sacomé, né, rapá!? Quando o serviço é grande a gente tem que tá nos pano, moleque! – riram.

    Mulambo estava com uma bermuda que havia usado apenas seis meses, era a mais nova que tinha. No pescoço, uma correntinha de Santo Expedito sempre ia pendurada. Camisa era algo que não lhe agradava. Dizia que blusa era coisa de viado. Simplesmente. Ele queria mesmo era ser rico.

    - E aí, vamo fazer o trampo mermo, né?
    - Claro, cê acha que a gente ia vim aqui de besta?
    - Qual é, Mexicano, tá estressado, maluco? Vamo-se embora?
    - E os carro? – perguntou Trambolho.
    - Já roubei o que tinha que roubar! – riram alto.

    Os três partiram para a missão da noite. De volta ao calçadão, Mexicano, que parecia mesmo ser “o cabeça” do grupo, começou a explicar o esquema. Primeiro iam encontrar o Sr. Lavoneri, que forneceria todo o equipamento necessário. A execução desse plano era algo melindroso, que precisava de muita destreza. O Mexicano garantiu ao homem que daria conta do recado. Queria apenas duzentos reais pra cada um. O velho quis baixar o preço, mas o garoto era duro na negociação. Ficou por duzentos. Assim, teriam dinheiro pra manterem-se por duas semanas sem ter de roubar ninguém. Trambolho e Mulambo não sabiam onde seria o encontro, nem quem era o velho, mas confiavam no “chefe”. Chegaram em uma das ruelas próxima à praia. Mexicano mandou os dois esperarem, ia encontrar Sr. Lavoneri sozinho.
    O velho estava com uma blusa preta, pólo. Usava um chapéu com abas longas, e tinha um óculos de lentes grossas. Cabelos grisalhos, e mãos trêmulas àquele momento.

    - Aqui estão as armas. – disse.

    SÔFREGA FERA

  • Mano Reis




  • Dentro de minha consciência
    Ruge um leão, sua impotência
    À beira de uma morte lenta
    Num covil, de areia barrenta

    O lúdico é que me surpreende
    Pela autenticidade ferina
    Mas que alma leonina
    Essa fera compreende?

    Não altera mais seu grito
    Nem mais entra em atrito
    Nem em seu corpo opera os sais.

    Mas a fera não está morta
    Só deixou quebrar a porta
    De mim preciso um pouco mais.

    Soneto para ti #1

  • sábado, 10 de dezembro de 2011
  • Mano













  • Morena de pele amorosa e amorada
    De fruta doce,  fina e saliente, charmosa
    De toque leve, suave deleite, formosa
    Olhos fortes e sinceros de mulata amorenada.

    Ah, se seus lábios falassem aos ventos
    Que careciam de lábios para beijar-te
    Mas que para que adormeças escarlate
    Só mesmo o calor e a vontade de meus beijos lentos

    Como o cavalgar à meia-noite
    E que o desejo me açoite
    Com sua corda sedosa.

    Como um espírito de amor
    Terei sempre ao meu dispor
    Tua boca venenosa!

    Agradecimento #1

  • Felipe D´Castro

  • Minha cara gaúcha, tenha dó
    Da sua pobre mãe, pois triste destas
    Que colocam um filho aqui nesta
    Maravilha de mundo, e, vejam só,

    O pequeno, mimado sempre, move
    Toda hora seus lábios, e só merda
    Há de falar - nem sequer há de herdar
    A educação donde cresceu e mora...

    Cala-te já, agregado miserável
    De um país que inocente te acolhia
    A não saber o opróbrio que havia

    Neste teu pensamento excrementável...
    Pobre dessa mãe aí do teu sul
    Que vê a filha da boca fazer um cu...

    SONETO PARA O TIMÃO

  • domingo, 4 de dezembro de 2011
  • Mano






  • Sei que o brasileirão tava agitado para nós
    E que o vascão achava que dava pra levar
    Só não consegui o riso controlar
    Quando o flamengo fez o gol nos bocós!

    Tudo foi muito ligeiro para o timão
    Até o doutor já tinha previsto a taça
    Pois se não jogamos hoje na raça
    Mas Jorge Henrique fez a sua firula de apresentação

    A taça foi levantada
    A medalha será levada
    Só que não é a de bronze

    Pois o vasquinho coitado
    Tá chorando, VICEado
    Pelo Brasileirão 2011!

    VIVA O TIMÃO

    NATAL NOSTALGIA

  • sábado, 3 de dezembro de 2011
  • Mano



  • As crianças penduram uma estrela
    Os coros ensaiam seus atos
    Nas chaminés, miam os gatos
    Pois chegou sexta-feira!

    A árvore no centro
    Enfeitada e brilhosa
    É a mais sibilosa
    Lembrança aqui dentro!

    E tudo se passa
    Num jantar de passas
    Que me amacia...

    E já se põe a madrugada
    De tamanha empreitada
    Em um natal-nostalgia!

    Lágrimas e suor. Líquidos e sussurros.

  • quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
  • Felipe D´Castro

  •        
             Sempre quis que não fosse ele. Mas o tempo é um bruxo mal, esperando nossos desejos na ânsia de revertê-los. Casamos há pouco. Os lençóis arrumados são provas do crime. Sobre a cômoda o despertador velho. Ele, já se arrumando para sair parece um anjo bruto, de asas de chumbo. Põe a gravata com a mesma delicadeza de uma pequena onça a brincar com seu irmão. A vida lhe era trabalho. Mas nem sempre o foi. Quando o conheci... naqueles tempos parecia mesmo que eu fazia parte de sua vida também.
      O sol espalhado pela sala. A luz espelhando-se em cada metálico detalhe do lugar. Um vento voltívolo invade o lugar, de instante em instante. Escravocratamente preparo seu café entre os martírios dos dias. Passa por mim. Arrisco um beijo, um resquício de matrimônio. Ele esquiva a boca e toca minha bunda, seu gesto mais romântico. Tudo pronto, pergunta. Quase tudo, respondo. Nossos diálogos são rápidos. Haikais argumentativos? Penso que não, que só são porque só podem ser desse jeito. Não há muito o que se falar depois de cinco anos de casamento. Não entre nós.
       Pedro nunca foi de falar muito mesmo, mas de uns anos pra cá anda mais quieto, mais fechado. Tudo que penso é em outros lábios o tocando. E outros lábios fazendo-o esquecer-me... oh, céus! melhor não pensar nessas coisas. Lobo calado, à distância, não põe medo em ninguém. Ele trabalha o dia todo. Chega em casa cansado, suado, esbaforido, esgarçado. Os homens têm uma relação de ódio com seus empregos, e, por osmose, passam a ter com suas mulheres. Busco o carinho de antigamente em todos os seus gestos. Mas como um arqueólogo que a nenhum osso encontra, procuro já sem ânimo em todo seu deserto um vestígio de carícia, de amor. Já vai, amor? pergunto. Ele me responde seco, sim. Dá-me um beijo no rosto, segura minha cabeça em suas mãos, e completa, te amo. Ele sempre diz isso. Por isso me pergunto se amor tem de ser provado. Vai ver amor é assim mesmo, só no plano das ideias.
         Nunca quis trabalhar. Ele recebe bem. Temos uma vida boa, rica. Semana passada compramos até um colchão novo. O outro estava meio ruim, molas soltas e tudo. Após despedir-se sai pela porta. Não olha pra trás. Nunca esquece nada. Quando esquece não volta. Voltar atrás nunca fez parte da vida de Pedro. Duas horas e a campainha toca. Finalmente alguém com quem eu possa conversar.
    Oi, Marina, vim te visitar. Lúcia, que bom te ver! Lúcia vinha visitar-me de pouco em pouco. A casa já estava toda arrumada, tudo em seu devido lugar. Fechei as cortinas e a sombra deu um tom Caravaggio à sala. E aí, esperando visitas? perguntou. Ora, mas por quê? Está tudo tão arrumado! ela disse. Ah, Lúcia, é assim mesmo, agora tenho tempo pra cuidar mais da casa. Você sabe, Pedro e eu não passamos mais tanto tempo juntos, ele quer ficar mais distante, quer trabalhar mais, temo que seu irmão não me queira mais! Marina, Marina, como não te querer? Esta frase, confesso, foi estranha por parte dela. Realmente meu marido parecia cada dia mais longe, cada dia menos meu, mas nunca refleti sobre o que posso representar pros outros. Você faz os outros pecarem, Marina! e riu. É sério, Marina, com esse corpo você poderia enciumar o Pedro rapidinho. Isso é jogo baixo, Lúcia. Como assim? deu uma gargalhada ainda maior. Os homens são tolos, são bichos! Querem ser proprietários de tudo quando gostam. E claro que a carne é o que mais lhe atraem. Somos seus alvos preferidos, querida. Aquele pensamento de Lúcia não me pareceu tão estranho.

             E você com esse corpo... e tocou-me de leve no rosto. Com essa pele macia, branquinha como espuma... Lúcia aproximara-se de mim, já comecei a sentir o ar que saia de sua boca, gelei. Ela rapidamente, sem conversa, puxou as alças da minha blusa, deixando meus seios à amostra. Beijou meu rosto. Sim, eu fiquei parada. Alguma mulher já te beijou de uma maneira tão sensual que te fez esquecer de mover-se? Comigo aconteceu justamente isso. Seus lábios eram moles, morenos, lábios doces de ameixa. Escorregaram sobre meu rosto va-ga-ro-sa-men-te... as mãos tocando meu seio. Movimentos circulares num cena tão disforme. De súbito vem-me à cabeça a imagem de Pedro. E as mão sobre os seios, Círculos de prazeres. Dedos finos, pele veludosa. Seus lábios eram, talvez, a carícia que tanto procurava. Meu Deus, traição? pensei. Levou a boca até os seios e, abotoando seus olhos nos meus, pousou a língua sobre meus seios rijos... sua língua passeava sobre mim enquanto, surpreendendo-me, aterrisso minhas mão sem rumo em seu quadril de menina. Pedro, o que pensar? Traição? Àquele momento meus sussurros começam a escapar. Suas mãos, sua língua, tudo me fazia sentir de novo o gosto do prazer. Ela põe mais força. Começa a sugar meu colo, e a cada sucção, mais força ponho em seu quadril. Minha Rita Baiana. Ela sugava-me como um filho à mãe. Estrategicamente, deita-me sobre o sofá. Continuo sendo a mulher. Continuo sendo a Marina de todos os tempos. Entretanto, penso em mudar ali. Filosoficamente encantada, torno-me o Pedro que quero. Com força puxo Lúcia. Nossos seios como dois pontões sob os tecidos molhados de suor. Ela gosta. Dá o meio sorriso das bacantes. Não me controlo e faço com que nossas línguas molhadas enrosquem-se como duas cobras. Serenissimamente a possuo agora. Deitou-a no sofá, olho-a fixamente e construímos um acordo de silêncio em um silêncio mútuo. Estendo-lhe os braços para cima. Porque mulheres mostram seu corpo ao esticar os braços. Seus seios me parecem mais redondos do que de costume. Meço minha boca ao seu colo, e concluo que é ideal. Sugo o seio numa vingança doce. Num canibalismo branco de uma mulher relegada. Desabotoou lento sua bermuda. A cada botão uma mordida ao seio. Ela espremia-se em sussurros baixos. Meus dentes, ariscamente, animalescamente, mordiam-lhe seu dorso tenaz, ao passo que seu maior encanto iria aparecendo. Sugar o seio de uma mulher a faz estremecer. Ela agarrava-me, puxava-me pra si. Era minha mulher. Como a queria possuir naquele momento. Pedro que se dane! Ainda mais, com certeza há outro seio em que Pedro queira colar a boca! Dane-se! Isso, dane-se! E ela passeava as mãos por cima das minhas costas, descia até as coxas. Acariciava-me como um homem. Suas mãos eram macias e fortes. Cravou as unhas em minha coxas quando suguei-lhe mais forte abaixo do umbigo. Havia descido. Agora brincava com sua barriga. E os seios ainda lá, duros, rijos, tenazes. Tirei por fim sua bermuda. Algo de molhado me surpreendia. Estava sedenta. Estava ávida como um cão esfomeado... e ela, minha cadelinha, possuía uma bela cauda. Vi já seus dedos delgados penetrarem len-ta-men-te minha saia. Senti seus carinhos já úmida. Úmidas, ambas. Ponho a mão na alça fina de sua calcinha, puxo-a de leve. Ela observa atentamente com os olhos sôfregos e a boca mais ainda. Ela quer me ter. Vejo lisa sua região mais bela. Sem nenhuma marca de fealdade. De repente sua pele morena entra em contraste com meus dedos brancos. Alguém bate à porta.

    SONETO PARA JÉSSICA DOS SANTOS (A PRÉFESSORA)

  • Mano



  • Bate em minha porta um desejo
    De pura nostalgia em brasa
    E agarrando vai, outr’asa
    De uma ave, que era abraço, laço e beijo

    Em tuas dunas quero uma viagem
    Com meu barco ao horizonte
    Pois nas dunas, sou mirante
    Mas nas tuas, sou miragem

    Em cabelos graciosos
    Lábios gostosos
    A tua mão que ensina...

    Professora recém feita
    Mas por mim já foi eleita
    A mais bonita menina...

    O EXECUTOR

  • sábado, 26 de novembro de 2011
  • Mano









  • Amarrei o garrote no pescoço quente
    Pulsava sangue nas veias cativas
    Ainda olhei pra suas córneas vivas
    E vi um ódio, sujo e aparente

    Não tenho culpa de matar lordes
    Ou de patrícios mandarem na terra
    Mas não fui eu que comprei esta guerra
    Não me condene, eu somente cumpro ordens!

    Não me chame agressivo
    Pois sou muito passivo
    Ao governo dos seus...

    Mas não minto eu espero
    Um longo, honesto e sincero
    Apelo triste de Deus!

    SONETO DE VIRGEM MORTE

  • sexta-feira, 25 de novembro de 2011
  • Mano


  • Veja que ninguém te condenou ao Deus dará
    Se aí estás, é obra do destino
    Pois o quadro de um verdadeiro desatino
    Desatina-se ao saber que de nada servirá

    Um desperdício de idéias
    É estendido à cova da razão
    Que o torna, em propulsão
    Um amontoado louco de pangéias

    Aquecido o necrotério
    Que te condena ao cemitério
    Por um suspiro que jaz esquivo...

    E anuncia-se a morte
    Pois em vida,te falta a sorte
    Para alinhar-se à minha alegria de estar vivo...

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