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Lágrimas e suor. Líquidos e sussurros.

  • quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
  • Felipe D´Castro

  •        
             Sempre quis que não fosse ele. Mas o tempo é um bruxo mal, esperando nossos desejos na ânsia de revertê-los. Casamos há pouco. Os lençóis arrumados são provas do crime. Sobre a cômoda o despertador velho. Ele, já se arrumando para sair parece um anjo bruto, de asas de chumbo. Põe a gravata com a mesma delicadeza de uma pequena onça a brincar com seu irmão. A vida lhe era trabalho. Mas nem sempre o foi. Quando o conheci... naqueles tempos parecia mesmo que eu fazia parte de sua vida também.
      O sol espalhado pela sala. A luz espelhando-se em cada metálico detalhe do lugar. Um vento voltívolo invade o lugar, de instante em instante. Escravocratamente preparo seu café entre os martírios dos dias. Passa por mim. Arrisco um beijo, um resquício de matrimônio. Ele esquiva a boca e toca minha bunda, seu gesto mais romântico. Tudo pronto, pergunta. Quase tudo, respondo. Nossos diálogos são rápidos. Haikais argumentativos? Penso que não, que só são porque só podem ser desse jeito. Não há muito o que se falar depois de cinco anos de casamento. Não entre nós.
       Pedro nunca foi de falar muito mesmo, mas de uns anos pra cá anda mais quieto, mais fechado. Tudo que penso é em outros lábios o tocando. E outros lábios fazendo-o esquecer-me... oh, céus! melhor não pensar nessas coisas. Lobo calado, à distância, não põe medo em ninguém. Ele trabalha o dia todo. Chega em casa cansado, suado, esbaforido, esgarçado. Os homens têm uma relação de ódio com seus empregos, e, por osmose, passam a ter com suas mulheres. Busco o carinho de antigamente em todos os seus gestos. Mas como um arqueólogo que a nenhum osso encontra, procuro já sem ânimo em todo seu deserto um vestígio de carícia, de amor. Já vai, amor? pergunto. Ele me responde seco, sim. Dá-me um beijo no rosto, segura minha cabeça em suas mãos, e completa, te amo. Ele sempre diz isso. Por isso me pergunto se amor tem de ser provado. Vai ver amor é assim mesmo, só no plano das ideias.
         Nunca quis trabalhar. Ele recebe bem. Temos uma vida boa, rica. Semana passada compramos até um colchão novo. O outro estava meio ruim, molas soltas e tudo. Após despedir-se sai pela porta. Não olha pra trás. Nunca esquece nada. Quando esquece não volta. Voltar atrás nunca fez parte da vida de Pedro. Duas horas e a campainha toca. Finalmente alguém com quem eu possa conversar.
    Oi, Marina, vim te visitar. Lúcia, que bom te ver! Lúcia vinha visitar-me de pouco em pouco. A casa já estava toda arrumada, tudo em seu devido lugar. Fechei as cortinas e a sombra deu um tom Caravaggio à sala. E aí, esperando visitas? perguntou. Ora, mas por quê? Está tudo tão arrumado! ela disse. Ah, Lúcia, é assim mesmo, agora tenho tempo pra cuidar mais da casa. Você sabe, Pedro e eu não passamos mais tanto tempo juntos, ele quer ficar mais distante, quer trabalhar mais, temo que seu irmão não me queira mais! Marina, Marina, como não te querer? Esta frase, confesso, foi estranha por parte dela. Realmente meu marido parecia cada dia mais longe, cada dia menos meu, mas nunca refleti sobre o que posso representar pros outros. Você faz os outros pecarem, Marina! e riu. É sério, Marina, com esse corpo você poderia enciumar o Pedro rapidinho. Isso é jogo baixo, Lúcia. Como assim? deu uma gargalhada ainda maior. Os homens são tolos, são bichos! Querem ser proprietários de tudo quando gostam. E claro que a carne é o que mais lhe atraem. Somos seus alvos preferidos, querida. Aquele pensamento de Lúcia não me pareceu tão estranho.

             E você com esse corpo... e tocou-me de leve no rosto. Com essa pele macia, branquinha como espuma... Lúcia aproximara-se de mim, já comecei a sentir o ar que saia de sua boca, gelei. Ela rapidamente, sem conversa, puxou as alças da minha blusa, deixando meus seios à amostra. Beijou meu rosto. Sim, eu fiquei parada. Alguma mulher já te beijou de uma maneira tão sensual que te fez esquecer de mover-se? Comigo aconteceu justamente isso. Seus lábios eram moles, morenos, lábios doces de ameixa. Escorregaram sobre meu rosto va-ga-ro-sa-men-te... as mãos tocando meu seio. Movimentos circulares num cena tão disforme. De súbito vem-me à cabeça a imagem de Pedro. E as mão sobre os seios, Círculos de prazeres. Dedos finos, pele veludosa. Seus lábios eram, talvez, a carícia que tanto procurava. Meu Deus, traição? pensei. Levou a boca até os seios e, abotoando seus olhos nos meus, pousou a língua sobre meus seios rijos... sua língua passeava sobre mim enquanto, surpreendendo-me, aterrisso minhas mão sem rumo em seu quadril de menina. Pedro, o que pensar? Traição? Àquele momento meus sussurros começam a escapar. Suas mãos, sua língua, tudo me fazia sentir de novo o gosto do prazer. Ela põe mais força. Começa a sugar meu colo, e a cada sucção, mais força ponho em seu quadril. Minha Rita Baiana. Ela sugava-me como um filho à mãe. Estrategicamente, deita-me sobre o sofá. Continuo sendo a mulher. Continuo sendo a Marina de todos os tempos. Entretanto, penso em mudar ali. Filosoficamente encantada, torno-me o Pedro que quero. Com força puxo Lúcia. Nossos seios como dois pontões sob os tecidos molhados de suor. Ela gosta. Dá o meio sorriso das bacantes. Não me controlo e faço com que nossas línguas molhadas enrosquem-se como duas cobras. Serenissimamente a possuo agora. Deitou-a no sofá, olho-a fixamente e construímos um acordo de silêncio em um silêncio mútuo. Estendo-lhe os braços para cima. Porque mulheres mostram seu corpo ao esticar os braços. Seus seios me parecem mais redondos do que de costume. Meço minha boca ao seu colo, e concluo que é ideal. Sugo o seio numa vingança doce. Num canibalismo branco de uma mulher relegada. Desabotoou lento sua bermuda. A cada botão uma mordida ao seio. Ela espremia-se em sussurros baixos. Meus dentes, ariscamente, animalescamente, mordiam-lhe seu dorso tenaz, ao passo que seu maior encanto iria aparecendo. Sugar o seio de uma mulher a faz estremecer. Ela agarrava-me, puxava-me pra si. Era minha mulher. Como a queria possuir naquele momento. Pedro que se dane! Ainda mais, com certeza há outro seio em que Pedro queira colar a boca! Dane-se! Isso, dane-se! E ela passeava as mãos por cima das minhas costas, descia até as coxas. Acariciava-me como um homem. Suas mãos eram macias e fortes. Cravou as unhas em minha coxas quando suguei-lhe mais forte abaixo do umbigo. Havia descido. Agora brincava com sua barriga. E os seios ainda lá, duros, rijos, tenazes. Tirei por fim sua bermuda. Algo de molhado me surpreendia. Estava sedenta. Estava ávida como um cão esfomeado... e ela, minha cadelinha, possuía uma bela cauda. Vi já seus dedos delgados penetrarem len-ta-men-te minha saia. Senti seus carinhos já úmida. Úmidas, ambas. Ponho a mão na alça fina de sua calcinha, puxo-a de leve. Ela observa atentamente com os olhos sôfregos e a boca mais ainda. Ela quer me ter. Vejo lisa sua região mais bela. Sem nenhuma marca de fealdade. De repente sua pele morena entra em contraste com meus dedos brancos. Alguém bate à porta.

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